Dom Evaristo Spengler explica a proposta das mulheres diaconisas em discussão no Sínodo

Foto: CNBB

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26 Outubro 2019

Durante o período pré-sinodal, de escuta das populações que vivem na Amazônia, o bispo da Prelazia de Marajó, dom Evaristo Pascoal Spengler, afirmou que 40% dos participantes dos eventos pré-sinodais pediram que o Sínodo aprovasse a possibilidade de as mulheres serem diaconisas. Isso porque a presença feminina na região é predominante e são elas que tomam a frente na Evangelização de diversos povos da floresta, em lugares onde os padres, muitas vezes, aparecem duas ou três vezes por ano. Por isso, dom Evaristo Spengler defendeu a causa no Sínodo. Em entrevista à CNBB, ele explica a proposta das diáconas mulheres e esclarece porque essa possibilidade não encontra empecilhos no ordenamento da Igreja Católica.

Dom Evaristo (Foto: CNBB)

A entrevista é de Manuela Castro, publicada por Conferência Nacional dos Bispos Brasileiros - CNBB, 25-10-2019.

Eis a entrevista.

Durante o Sínodo, ouvimos muitas mulheres, que são missionárias na Amazônia, dizerem que já exercem funções que seriam de uma diaconisa. Por que, então, instituir o diaconato das mulheres oficialmente?

As mulheres já exercem as funções, com certeza, mas sempre de forma extraordinária. São ministras extraordinárias da Comunhão, ministras extraordinárias do Batismo ou da Palavra. Quando você tem uma ordenação, cria-se uma oficialidade, ela se torna mais representante. Então é essa representação local nas comunidades que nós queremos ter na Amazônia, senão o povo se sente longe dos ministros ordenados da Igreja.

A proposta de se instituir o diaconato das mulheres não é uma unanimidade. Quais seriam outras possibilidades?

Existem outros tipos de ministérios, de coordenação de comunidade, ministério da Palavra oficializado, então há outros caminhos que o documento talvez aponte, vamos aguardar a apresentação em plenário para ver de fato as propostas.

Há quem defenda que a questão do diaconato das mulheres deve ser mais estudada e decidida em outra ocasião. O que o senhor pensa sobre isso?

Este Sínodo é como todos os outros que já foram realizados, tem o mesmo peso. Embora seja o Sínodo para uma região, a Amazônia, tem representação das igrejas católicas do mundo inteiro. Então este Sínodo tem sim a possibilidade de tomar uma decisão dessa natureza.

Qual é a base, a referência que o senhor usa para defender o diaconato das mulheres?

Lendo a Bíblia, percebemos uma forte influência das mulheres. Muitas vezes nós destacamos os patriarcas, mas ao lado dos patriarcas estão as matriarcas; destacamos os profetas, mas há as profetizas; destacamos os juízes, mas tem as juízas que conduzem o povo de Deus. E Maria é a maior das mulheres, que disse o seu sim e que de fato mudou a história da Salvação. Também, ao longo da história da Igreja, tivemos mulheres que foram decisivas, como conselheiras de papas e santas. A partir do século XII, existem mais santas mulheres do que santos homens canonizados na Igreja Católica. Então não é por falta de santidade que as mulheres não podem exercer o ministério. O que faz o Papa Bento XVI? Ele muda o cânon 1009 (do Direito Canônico), que dizia que os bispos, presbíteros e diáconos estão ligados ao Cristo Cabeça. Muitos diziam que esse era um impedimento para a ordenação de mulheres. Bento XVI mudou o terceiro parágrafo desse cânon dizendo que o bispo e o presbítero estão ligados ao Cristo Cabeça, mas o diácono está ligado à diaconia, ou seja, ao serviço da Palavra, da caridade e ao serviço da Liturgia.

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